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Foto do escritorMeeting Lisboa

Amados amamos.

«A solidão não é um problema do Homem, mas o problema humano em absoluto». Partindo da figura do pastor errante da Ásia, de Giacomo Leopardi, e do exemplo do seu próprio bisavô materno, emprestado às extensas planícies do deserto do Turquestano, o Pe. Mauro Giuseppe Lepori guiou-nos esta tarde numa reflexão profunda e poética sobre a imensidão da solidão humana.

 

Começando por se debruçar sobre as maiores realidades do Universo (a paisagem do deserto ou das montanhas, uma sinfonia, o rosto duma criança), o Pe. Lepori faz notar que a solidão humana é doutra natureza: é a imensidão duma consciência de infinito a que o Universo não corresponde; é uma ferida insuportável dum coração inquieto.

 

De forma belíssima, descreve a solidão como «um Mistério partilhado entre Deus e o homem», desde o início da Criação. Diante daquele que criou à Sua imagem e semelhança, Deus diz «não é bom que o homem esteja só» (Gen 2, 18), reconhecendo que tinha colocado um anseio de infinito neste pequeno vaso de barro. Contudo, Deus não satisfaz a priori esta tensão e inquietação do homem, mas deixa que a solidão e a inquietação possam ser princípios orientadores da vocação. A solidão torna-se, assim, um sinal que encaminha o homem para o seu destino de se realizar no Amor. «Amados amamos»: é esta a promessa e vocação do homem.

 

A «solidão imensa» é então sinal do desígnio de comunhão inscrito no coração do Homem. Assim, o Pe. Lepori convida-nos a ver a solidão não como um vazio, mas como um espaço que se destina a ser preenchido por amor, um amor que só atinge a reciprocidade plena no Amor do Criador. «Só em Deus a alma encontra o repouso da comunhão que não morre.» É o olhar amoroso de Deus que nos arranca da solidão, que nos faz afirmar que «o Eu é mais imenso que a solidão».

 

E avança: assim, não estamos sós na nossa solidão imensa. Deus deixa-nos a Igreja como sinal e instrumento da resposta de Deus à solidão do coração humano. «A Igreja é o local onde “amados amamos”».

 

Olhando para estes dias, percebo, de facto, como os santos que nos têm acompanhado neste Meeting (Takashi Nagai, Carlo Acutis e outros tantos) são, acima de tudo, testemunho do Amor que responde à pergunta «e eu, que sou?». Por outro lado, mostram como a nossa companhia é reflexo deste Amor que encontra o coração do Homem e vence a solidão.

 

«O verdadeiro infinito não é o Universo estrelado ou as planícies da Ásia, mas o nosso coração quando se perde ao serviço do outro. A solidão é vencida e o Eu descobre que é imenso, amado e capaz de amar como o coração de Deus.»

 

Margarida Grilo

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